segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pinta esse quadro:

Quem disse que conversar sobre religião não leva a lugar algum? Quando um católico, um testemunha de Jeová, um agnóstico e um ateu se reúnem, leva. O conhecimento de cada um é partilhado, compreendido, absorvido, analisado e comentado. As perguntas não se calam, os cigarros não se apagam, as garrafas não acabam, as risadas não cessam e o trabalho não se cansa de chamá-los.
Os corpos se dispem daquelas tristezas e alegrias e a boca se fecha por um instante para que os ouvidos ingiram uma lição acertada. Ficam sérios.
Chega a risada estridente e, ao serem contadas histórias da infância e da adolescência, os corpos rolam na pedra áspera.
As chamas insistem em se apagar, mas a vontade de que o momento dure por mais vinte tragos é tamanha que uns saem para comprar mais veneno. Saem, mas voltam. Com a geladeira e a piteira abastecida novamente, continuam.
Ah, o trabalho! Monta esse armário!
Ébrios e com as bocas metralhando blasfêmias bem humoradas, finalizam o que fingia ser um objetivo impossível.
O miado esquisito e a sinfonia de sopros se calam e o mundo dorme já de manhã. A baixeza e a inocência das brincadeiras dão lugar ao sono e tudo acaba em sujeira, dever cumprido, satisfação e certeza de que amigos a gente leva no coração, no gargalo e nas marteladas. Apagam-se os cigarros, finalmente.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Balanço(a) do ano.

Ao ponderar durante dois cigarros sobre o que você fez ao longo do ano que passou, você perceber que ele foi só um trago na vida não é lá muito bom. Será?
Você viveu trezentos e sessenta e cinco goles de cerveja da sua vida e, praticamente, não saiu do lugar. Teve uns doze beijos de motivo para se interessar por alguém e fazer com que ela se prendesse a você, mas não o fez. Passou mais de duas mil lições de momentos relevantes, somente por volta de dez shows de situações marcantes e mais de cento e quarenta e três mil palavrões desnecessários.
E para quê? Para ficar sete quilos mais experiente, oras.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Delícia de estorinha.

Após mais um fim de semana diferente e inesquecível, ele chega em casa cansado e com as pernas doendo. Eis que surgem ligações e mensagens de ambas as partes. As primeiras horas da semana útil ia ser, no fim, a chave de ouro a fechar tudo.
Seu corpo leve o esperava sobre a mureta da orla da praia. Uma noite de clima agradável que lhe exigiu nada mais que uma blusa confortável e um par de jeans. A cara limpa, sem nenhum artifício para falsificar uma beleza chata e comum, a fez ainda mais bonita. As marcas e covas eram lindas e o sorriso parecia ainda mais verdadeiro.
Era aquela garota que diriam comum - e talvez até fosse. No entanto, ela não se fazia nada comum para ele. Um moleque largado, sabe-se lá por quê, jogou um casaco sobre si mesmo antes de sair para encontrá-la.
Durou pouco. Mas foi bom. Uma volta pela orla acompanhados de casais, solitários possivelmente em busca de descanso e uns poucos trabalhadores que ali figuravam, mas sozinhos.
Algo que o remeteu a anos atrás, uma época muito inocente. Não havia inocência, porém. A culpa o consumia ao mesmo tempo em que era apenas uma especiaria que dava mais gosto ao momento.
E ela alegre. Tocava-lhe a cintura, as mãos e os braços a todo minuto.
Passou. A semana começaria logo após.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Felicidade

Quando um amigo cutuca o outro e lhe grita que agora vai ser a melhor de todas, a mais conhecida. Quando você olha para trás e tem uma garota chorando de felicidade. Quando tem vários amigos se abraçando, sorridentes. Quando você vê seu amigo ao lado praticamente te agradecendo num olhar por tal momento. Quando todos entoam o mesmo refrão. Quando você não sabe onde por sua mão, que quer acompanhar o ritmo da bateria ao mesmo tempo em que quer empunhar a guitarra inexistente ou, simplesmente, ser erguida e balançada de um lado para o outro.
E, no fim, todos extasiados seguem em direção à saída quase não acreditando no que acabaram de ver. Faltam-lhes palavras, gestos e até os sentimentos não são suficientes para mensurar o que lhes ocorrera diante das retinas.
Foram reis que me deram o melhor dos presentes.

domingo, 19 de setembro de 2010

Estorinha de dois

A necessidade de escolher uma música para fofocar seu sentimento para ela se fazia presente. A inquietude das pernas por não saber caminhar com as palavras era tamanha que, por razões do coração -isto é, nenhuma - perambulava pela cidade ouvindo sua lista de músicas previamente selecionadas para o momento.
Sempre presente, as canções lhe pareciam corajosas, transparentes, transcedentes, multi-significativas... São o que ele queria ser, mas nunca teve a audácia de sê-lo de fato. Ele era aquilo: só um, comum, simplório, típico, um outro... mas diferente em sua semelhança com os demais.
O cabelo era comum, mas o penteado não. O corpo era mais um, mas o desenho não. As roupas eram típicas, mas a combinação não. Os tênis eram os de sempre, mas as solas eram gastas de forma diferente, pois seu andar era torto. O só um era um só, enfim.
O que sentia era forte. O céu, que mais parecia uma sacola plástica cheia de água recém rasgada por uma faca luminosa, fazia o papel de seus olhos. O sol disputava uma ponta da estória com ela, que lhe esquentava o peito e mais.
Ela também era daquele jeitinho usual, que, de tantos vestidos iguais pela cidade, de tantas blusas quadriculadas e de tantos óculos retangulares vistos por aquele litoral, quase nada fazia dela uma menina digna de destaque. Mas ela era. Talvez aquele par de sapatos vermelhos, talvez a beleza de seus lábios levemente pintados, talvez aqueles cabelos pretos de boneca... Por um apanhado de coisas desse tipo, certamente.
Ele nunca vira alguém assim. Ela já... vários. Vários tipóides como esse. Mas nunca conversaram, pois a canção certa nunca foi escolhida.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Três meses

Nunca passei dos três meses de experiência.
Nunca experimentei o "eu te amo" infinitamente sincero, embora já tenha achado que sim.
Nunca comemorei o Dia dos Namorados nem aniversário de namoro.
Nunca exibi uma companheira em uma reunião de família.
Nunca vivi as crises dos seis meses, do um ano, dos três anos etc.
O bom é que pode ser tudo numa tacada só. Ou vou amargar a velhice sendo o criador de cachorros sem filhos ou mulher da vizinhança.
Mas nunca sozinho.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A mistura de ritmos

De tantas músicas já ouvidas e dançadas, sempre me cresce a vontade de conhecer um ritmo novo, de viver uma experiência nova em busca de um dedilhado diferente, de uma batida marcada em ritmo diferente.
Músicas quentes e fervorosas, canções calmas para embalar um sábado ensolarado sentado à beira da praia, obras bem elaboradas em momentos de reflexão e estudo... música.

Do baião agarrado, do tango entrelaçado, do rock despojado, do samba malemolente, do metal encorpado e cortante e até do country com passos previsíveis, mas de certas frases grudantes... Todas elas tem suas peculiaridades, idiossincrasias; são infinitamente particulares, as músicas.

E há de se respeitar o ritmo de cada uma. Nada de girar e girar ao som de punk rock. O tiro é certo.
E tem de se admirar o corpo de uma canção bem trabalhada, bem estruturada, linda e gostosa de tocar. O que é bonito é para se ouvir.

Mas a procura por aquela ainda não ouvida, não apreciada e tampouco tocada só se faz maior.
Porém, a boa vida toa com experiências diferentes e, caso seja achada tão cedo a música a ser ouvida até o fim, a vontade de viver pode se esvair com o tempo. Portanto, o melhor a se fazer é viver prestando atenção nos diferentes tons e sons de cada uma delas, para que um dia a escolha por aquela 'uma só' seja a mais bem feita.

Trilha Sonora: Pearl Jam (Discografia em shuffle)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Boa noite.

A voz anasalada, as narinas completamente fechadas, assim como o casaco. As pernas cruzadas na esperança de uma acalorar a outra. As calças sempre mais finas do que o necessário. As meias insuficientes para manter os pés quentes. A sinfonia dos espirros e das tosses se alternam ou se sobrepõem. Os edredons não dão conta. A conversa que não acabou antes de terminar. O saco de batatas que não acabou antes da vontade. O cigarro que acabou antes da conversa. O sono que começou antes do fim da conversa. A conversa que foi interrompida pela necessidade de acordar cedo na manhã seguinte. As outras conversas sem futuro nem muita importância que vão dar lugar a outro sono. As músicas que alegram. Os fones que apertam as orelhas. O estranho bom humor personificado pela ironia/sarcasmo apartente. Boemia? Só fim de semana, se for... Meio de semana nunca. Trabalho amanhã. Boa noite, então.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Trilhos da vida

Às vezes me flagro pensando em como uma relação entre duas pessoas pode ser tão conturbada e, ao mesmo tempo, tão satisfatória. De noites esporádicas em bares, geralmente, para resumir ou detalhar o fim de semana, passando por tardes torcendo pela seleção brasileira - ainda que em vão - e chegando a uma manhã se recuperando de uma noite que tinha tudo para ser mais outra da qual nos lembraríamos por boas conversas ruins, mas que ficou marcada pelo serviço braçal de levantar um ou dois carros.
O começo perturbado, o meio estabilizador e o agora mais que fortalecido, embora confuso, ainda assim, deve ser o significado de amizade. E é.
As escapadas a três - o suquinho à mesa sempre - são capítulos de um livro que nunca quero que se acabe, mas que um dia deixará de contar com os personagens principais - tendo em vista que há laranja no mundo para fazer sucos por muitos anos, ainda.
A garganta arranhada por conta de uma vontade idiota (backspace) feliz de cantarolar as poucas partes que se sabe de umas músicas de uma banda de rock sempre voltam a salientar, em meio a insultos incitados pela muita molecagem de primário que ainda carrego e risadas em uníssono, a importância que tem conquistado nessa minha vida.
Que as confissões ainda sejam muitas. Vivamos para que sejam, então.

Trilha Sonora: Los Hermanos (Discografia em shuffle no winamp)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Bairrismo

O lugar onde alguém mora é sempre o pior visto de dentro, mas o melhor visto de fora - pela mesma pessoa. Por quê? Oras...
Você pode e deve criticar tudo que há de pior onde vive. Você pode e deve criticar todas as atitudes erradas que as pessoas ao seu redor (e isso inclui você próprio) tomam equivocadamente. Pode e deve colocar o dedo na ferida de tudo o que há de ruim na sua casa, no seu prédio, no seu condomínio, na sua rua, na sua vizinhança, na sua cidade, na sua região, no seu estado e no seu país. É o que você, cidadão, tem que fazer. É seu papel, mesmo. Se não o faz, não age de acordo com suas obrigações. Simples assim. Afinal, só enxergando e apontando o problema é que é possível mudá-lo, certo? Pois bem...
Agora, se chega o seu vizinho e diz que sua casa é desorganizada, sua família é desbocada, fala alt0 demais, veste-se mal e não tem bons costumes, aí o buraco é mais embaixo. Mas por quê? Afinal, você faz o mesmo, reclama dos mesmos problemas. Sua casa é realmente uma bagunça e sua família não é nada perfeita, convenhamos - longe disso, aliás.
Esse seu vizinho enxerido e metido a sabichão não tem o direito de criticar sua casa, já que não pode mudá-la. Toda crítica deve vir com uma solução ou algo perto disso. E uma solução para um problema de sua família só você e sua família pode trazer, afinal de contas vocês é quem sabem melhor do que ninguém o que é melhor para vocês. E, mesmo se não souberem, simplesmente, não é da conta desse cara.
Agora peguemos um exemplo parecido, mas sob um ponto de vista diferente: Você vai ao exterior de seu país ou conversa com algum estrangeiro. Você sabe (melhor que um mundo de gente) os problemas que o Brasil tem, mas sabe o potencial que ele tem de mudar, também. Se um estrangeirinho qualquer fala mal dele, você vira bicho. É uma reação instintiva. Você, automaticamente, começa a falar das qualidades do seu país (ou estado, região, cidade, bairro etc.), do quanto ele é melhor do que o do outro (porque é!) e de todo potencial que ele tem. Enaltece os pontos positivos como nunca pensara que um dia poderia fazê-lo. Mas por quê?
Você é um bairristinha de meia pataca, assim como eu também o sou. Falou mal do seu nicho social, falou mal de você. Só você pode fazer isso.
E o pior são aqueles que falam mal de seu país, da sua cidade, mas precisam morar nela ou dependem dela, muitas vezes! Chega a ser patético. Não é tão ruim assim? Saia daqui e vá para um lugar que julgue melhor, pois daqui cuidamos eu e quem é dos meus.
Porém, o que se deve fazer nesses casos, é não esquentar muito a cabeça. Pelo contrário: ironize toda a situação. Seu país só tem macacos? Saque e descasque uma banana na hora. Seu país só tem gente mostrando bunda? Hm... Ok, mostre os pontos positivos. O lugar de onde você vem só tem gente metida? Empine seu nariz de tal modo que as pessoas vejam suas narinas bem abertas (e limpas, de preferência). Você sabe o que é melhor para você e para o seu redor. Continue defendendo sua terra.
Agora, se não é assim, mude-se. Não fará a menor falta.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Minha volta às aulas.

É bom saber o material humano com o qual se vai trabalhar por um semestre letivo. É bom ver de quem são as vidas que, quer queira ou não, vai-se tentar mudar um pouco e vou, de alguma maneira bem específica, torná-las um pouco melhores do que são - modéstia às favas, às cucuias e ao limbo, mas reinando a sinceridade.
Conhecer essas pessoas, com pouca ou muita experiência de vida, mas que, ainda assim, estão lá para aprender algo de mim, sempre me renova. Sempre faz com que seja cada vez mais difícil saber discernir o profissional do pessoal, sob o ponto de vista do afeto - muito embora se saiba. É, afeto.
O uso das mesmas piadas de início de semestre sempre sinceras e (quase) sempre bem-sucedidas marca o que vai ser uma jornada de aprendizado... p'ra mim.
Desde aquela criança/pré-adolescente que não para de falar sobre suas experiências de vida, as coisas novas que lhe acontecem no dia-a-dia, tudo que sempre cai de sua carteira, de como você é mais "animado" e "legal" que os anteriores (coisa que criança fala não se leva a sério, às vezes) e de quando demonstra carinho estantaneamente para com alguém que ela acabou de conhecer até aquele adulto que você percebe nos olhos que está satisfeito com o que espera, mesmo que um pouco receoso, às vezes.
E que Dezembro seja recheado de gente querendo um lanche no Habib's, um "montinho no teacher", uma dancinha, uma cantoria inusitada, uma "foto com a turma para colocar no orkut", um abraço em grupo, uma esfiha com Coca-Cola na semana seguinte ao último dia, um vídeo, um speech emocionante/emocionado, lágrimas...
Impossível não haver aquela turma com a qual, você dê mais risada, tenha mais o sentimento de companheirismo e até mesmo - por que não? - de amizade. Mas há também o momento em que seu corpo se enche de satisfação e sentimento de dever cumprido quando alguém lhe fala que, finalmente, entendeu tal coisa com sua explicação diferenciada. Tudo isso só fez e faz com que aquele moleque cabeludo da faculdade que ria dos outros que queriam ensinar tenha se tornado um profissional mais do que feliz na área não a que escolheu, mas a que o fisgou de tal forma que, hoje em dia, não se vê fazendo outra coisa e a qual está cada vez mais disposto a se dedicar.

Trilha Sonora - Joy Division - Substance (1988)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quem me dera houvesse trem...

...bala.

É meio bobo e sem-pé-nem-cabeça falar sobre uma cidade que você visitou poucas vezes e, nas vezes que foi, não conheceu muitos lugares diferentes, apenas perambulou pelos mesmos bairros e bares e com as mesmas pessoas. Mas, porém, contudo, no entanto, todavia e tudo mais, há algo nela que me cativa. Seja pelas pessoas, pela maneira que elas vivem, pelo clima sempre descontraído, pela rabugice bem-humorada, pelo constante contato com pontos turísticos mesmo estando em algum lugar bem longe de tudo... ou seja, simplesmen... principalmente, pelas pessoas que lá encontro e pelas histórias -algumas vezes patéticas, outras vezes bonitas, engraçadas e todas as vezes, no mínimo, interessantes - que sempre acabo trazendo na mala junto com as roupas sujas, descansador de copos roubados de algum bar qualquer como lembrança, câmera digital e até pseudo-drogas (pseudo, disse eu!).
São diversos os motivos pelos quais já fui a esse antro de sem-vergonhice, canalhice e gente suja que aprendi a gostar. Amigos, mulher, mulher, amigos, falta de opção, vontade de fugir, vontade desesperada de curtir férias etc. E sempre volto com uma sensação boa - além da barba gigante.
Aí me encontro ouvindo músicas de paulistanos que adoram o Rio, mas tem São Paulo como seu lugar e divago: Será que estou nessa situação? Mas logo coloco os pés no chão e me respondo que não. Óbvio que não.
Meu lugar é Santos, sempre vai ser. Com todos seus defeitos, com seu enorme jardim cheio de ratos, com seu centro morto, com, no máximo, 3 ou 4 famílias que mandam e desmandam na cidade (desde quanto vai passar a custar um imóvel até mover a feira de uma rua para outra), sem bares com músicas boas e opções baratas no menu... É, não dá pra enumerar todos os percalços pelo qual passa um boêmio wannabe em Santos, mas, por mais estranho que possa parecer - e parece - é o meu lugar e me orgulho dele. Mesmo cultuando um time que não é do meu coração, mesmo enaltecendo políticos que nunca me disseram, realmente, a que vieram... Com todos esses gols contra, gosto daqui. Tudo isso para expressar que não divido o mesmo ponto de vista da frase de tal banda, que é de São Paulo.
Também não navego no mesmo barco que eles, pois, ao que me parece, nunca largariam sua cidade-natal. Eu sim. Sempre dá vontade. Já deu e já o fiz, mas nada muito arrasador e rebelde o bastante. E voltei. Porém, ir morar em outro estado me traz aquele frio bom no estômago que parece que é causado por asas de borboletas do jardim da orla de... Santos.
Quem sabe... Partiu?

Trilha Sonora: Pullovers - Tudo Que Eu Sempre Sonhei (2009)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Mais um dia por vir.

O barulho do despertador enche o quarto de desespero e pressa. Enche seu corpo de má vontade, de cansaço antecipado. Os lençóis enrugados são convidativos, querem que fique por mais seis horas lhes fazendo companhia. A parede vermelha-cereja tenta, em vão, prender seus cabelos. O edredom esquenta o peito desnudo que logo sente frio ao se sentir desprotegido. Porém, a coragem e a necessidade falam mais alto e os chinelos, que antes estavam à espera dos pés brancos e chatos, nem muitos grandes nem miúdos demais, tomam vida e balbuciam um barulho arrastado até o banheiro. Enfim, em pé.
Longo, o dia acorda com comida semi-aprontada no dia anterior e esquentada no micro-ondas. Liga a televisão para ter aonde olhar. Esportes. Futebol. O Tricolor perdeu mais outra, talvez se guardando para a batalha campal de meio de semana, que fará sangrar o oponente até que este queira nunca ter sido chamado de colorado, pois o será ainda mais. Mas colorado pelo sangue que será derramado dos corações tristes de seus adoradores, coitados. O quase-almoço fica todo pronto. Senta-se na sala em frente à televisão, em cima do tapete azul-turquesa. Momento que beira o oriental. Ele quase come tudo o que colocou no prato raso de vidro amarronzado, mas não consegue. Deixa.
Tira as poucas roupas que ainda lhe restam da noite anterior no desejo e na necessidade de que desçam pelo ralo os resíduos que seu corpo produziu ao longo da noite. O cheiro bom do sabonete e do shampoo tomam conta do banheiro esfumaçado e quente e úmido. A toalha, ao esfregar-se contra seu corpo, adquire o mesmo odor prazeroso e umedece. Logo em seguida, ela abraça sua cintura enquanto ele escova seus dentes, coisa não muito caprichada, já com pressa. A camiseta vermelha é vestida, indicando a mudança de personalidade, de responsabilidade e de conduta de vida. Agora ele é outra pessoa. A mesma, talvez, mas diferente de antes. A cueca e as calças jeans vestidas e as meias e os tênis calçados mostram que está na hora. Coloca a carteira, o celular e aquele aparelho que comprou no final de semana anterior em diferentes bolsos e a mochila nas costas. Abre a porta. Ao trancá-la, vira a chave somente uma vez, pois ouviu um dia que assim é mais seguro que duas voltas. No começo, era por isso, agora não passa de um hábito. Tem dado certo, por que mudar? Sai.
Espera o elevador. Entra e se depara com a mesma imagem de quando escovava os dentes, mas agora sua boca não mais espuma e a camiseta vermelha agora compete atenção com a luz clara e vence. A preocupação é com os cabelos, que insistem em não repousar no lugar de sua preferência. Esboça um descontentamento, não que alguém pudesse ver e fazer alguma coisa, mas para expressar para si mesmo que a insatisfação tomou conta. Coisa boba; desiste.
O aparelho do bolso é retirado e, ligado, produz canções que o fazem bem. Oras provocam estado de euforia, oras de calmaria. Oras de furor, oras de paz. Oras de tristeza, oras de alegria, felicidade. Não se ouve mais o barulho do elevador descendo, passando pelos andares e parando no piso desejado. O que se ouve é apenas a música escolhida para aquele punhado de minutos que ditarão o humor do dia inteiro. A música ensolarada se mistura com o dia barulhento de frases sincronizadas ou não. A manhã, enfim, transforma-se em tarde. A viagem, a descida, a viagem, a descida, a viagem e a descida indicam a luta e o amor por fazer o que gosta e lhe dá prazer. Aquela música fez sentido, agora. O despertador, por fim, estava certo ao acordá-lo. Valeria a pena. O dia, enfim, começa.



Trilha Sonora: Mallu Magalhães - Mallu Magalhães (2009).

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Suco de laranja nosso de cada noite.

O suco ao qual me refiro conforta o solitário, aquele que vive sem amigos - seja porque não os tem, seja porque estão longe, ocupados, ou, simplesmente, porque os créditos do celular acabaram há mais de uma semana e não teve como chamá-los para dividir o Del Valle. O suco para momentos nostálgicos e de auto-avaliação.
O mesmo suquinho que une colegas de trabalho numa sexta-feira à noite após o expediente, ou para falar mal do chefe, ou para falar mal do dia, mas com o propósito principal e, quase sempre certeiro, de esquecer tudo de ruim que houve ao longo da semana e, se não for possível esquecer, rir de tudo. Rir de todas as trapalhadas, de todas as 'comidas de rabo', enfim... Tudo regado a muitos palavrões e gírias oprimidas pelo escritório, sala de aula, consultório etc. Mas suco demais, ainda mais com colegas de trabalho, faz mal pra saúde e pra reputação. Seja saudável com moderação.
O tão-rico-em-vitamina-C ainda pode adoçar novamente os paladares daqueles que amargam a perda de alguém com quem dividia a cama, o travesseiro, o lençol e até mesmo o canudinho ao tomar um... suco. Afinal de contas, após perder a metade de sua laranja, ao menos um suquinho pode ser extraído e bebido em seguida, certo? Ok.
O verdadeiro degustador de suco de laranja elege uma marca (se não o natural) como sua favorita. Eu, como já visto, tenho minha preferência pelo da latinha vermelha. Há aqueles que preferem aqueles com gominhos, aqueles que gostam de um mais concentrado e outros, ultra-preocupados com a saúde, que gostam mais de um suco de polpa de acerola com laranja pelo fato de conter muito mais vitamina C.
E se o indivíduo quiser um natural - nada de polpa, caixinha, latinha, garrafa ou coisa do tipo - ele pode escolher com açúcar, sem açúcar, com adoçante, sem adoçante, com muito, com pouco, 100% natural...
Cada um gosta de seu suco de laranja de um jeito. Não vou nem entrar no mérito dos copos, aí já seria muita enrolação. Tulipa grande é meu 'embebe' preferido. E prefiro beber na presença de amigos, do trabalho ou da vida off work. Uma noite com alguém que me possa ser especial no momento o suficiente para dividir uma garrafa de suco de laranja é sempre bem-vinda, é lógico. O lance é beber suco de laranja sempre, seja sozinho, seja acompanhado - por muitas pessoas ou por uma só. Mas cuidado para não fazer besteiras demais se exagerar no açúcar. Não misture tipos diferentes de suco numa mesma noite.
Deguste com parcimônia. Mas não tanta.

domingo, 25 de julho de 2010

Mais de 140 caracteres.

Domingo de manhã nebulosa, após uma noite de sábado em casa com as pernas doendo de tanto tempo sentado em frente ao computador, duas latas de cerveja (era o que tinha) ingeridas (o conteúdo, não a lata)... Eis que surge, não a ideia, mas a atitude de fazer um blog. Sabe-se lá o porquê, já que existem tantos sem nenhum leitorzinho assíduo e não vai ser esse que vai ter algum. Ou até vai, se houver gente que curte jogar um tempinho fora rindo dos outros (não "com os"). Enfim, o importante é ter bom humor pra levar a vida mal-humorada de sempre. Vírgulas, parênteses e alguns pontos finais ao longo de cada textículo podem, devem e serão encontrados. O que te leva a pensar, porém, são as reticências que indicam a frase inacabada, quase que suplicando por um fim digno que o redator/escritor/metidoabesta não teve a capacidade/coragem/ousadia/perspicácia/criatividade de dar. Algo que pode ser levado pra uma vidinha medíocre que só implica acordar, tomar banho, comer, trabalhar, comer, trabalhar, tomar banho, comer e dormir. E o pensar, o diferencial, fica no limbo. Ou seja, a imaginação é o que conta aqui. Não tanto a minha...



Para começar, ao que deve o título/endereço desse blog:



Lógico, A Volta Do Boêmio. Por quê? Nem sei... Mas que ficou bonitinho e sugestivo, ficou. Com o tempo e os posts, vai passar a fazer total sentido, acredito.



Para terminar, a trilha sonora: The Sounds Of The Smiths (2008). Acho que pra combinar com o começo do dia. Frio, solitário e até meio que deprimente. Bem diferente do resto do dia, eu prevejo (ou acredito prever).