domingo, 19 de setembro de 2010

Estorinha de dois

A necessidade de escolher uma música para fofocar seu sentimento para ela se fazia presente. A inquietude das pernas por não saber caminhar com as palavras era tamanha que, por razões do coração -isto é, nenhuma - perambulava pela cidade ouvindo sua lista de músicas previamente selecionadas para o momento.
Sempre presente, as canções lhe pareciam corajosas, transparentes, transcedentes, multi-significativas... São o que ele queria ser, mas nunca teve a audácia de sê-lo de fato. Ele era aquilo: só um, comum, simplório, típico, um outro... mas diferente em sua semelhança com os demais.
O cabelo era comum, mas o penteado não. O corpo era mais um, mas o desenho não. As roupas eram típicas, mas a combinação não. Os tênis eram os de sempre, mas as solas eram gastas de forma diferente, pois seu andar era torto. O só um era um só, enfim.
O que sentia era forte. O céu, que mais parecia uma sacola plástica cheia de água recém rasgada por uma faca luminosa, fazia o papel de seus olhos. O sol disputava uma ponta da estória com ela, que lhe esquentava o peito e mais.
Ela também era daquele jeitinho usual, que, de tantos vestidos iguais pela cidade, de tantas blusas quadriculadas e de tantos óculos retangulares vistos por aquele litoral, quase nada fazia dela uma menina digna de destaque. Mas ela era. Talvez aquele par de sapatos vermelhos, talvez a beleza de seus lábios levemente pintados, talvez aqueles cabelos pretos de boneca... Por um apanhado de coisas desse tipo, certamente.
Ele nunca vira alguém assim. Ela já... vários. Vários tipóides como esse. Mas nunca conversaram, pois a canção certa nunca foi escolhida.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Três meses

Nunca passei dos três meses de experiência.
Nunca experimentei o "eu te amo" infinitamente sincero, embora já tenha achado que sim.
Nunca comemorei o Dia dos Namorados nem aniversário de namoro.
Nunca exibi uma companheira em uma reunião de família.
Nunca vivi as crises dos seis meses, do um ano, dos três anos etc.
O bom é que pode ser tudo numa tacada só. Ou vou amargar a velhice sendo o criador de cachorros sem filhos ou mulher da vizinhança.
Mas nunca sozinho.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A mistura de ritmos

De tantas músicas já ouvidas e dançadas, sempre me cresce a vontade de conhecer um ritmo novo, de viver uma experiência nova em busca de um dedilhado diferente, de uma batida marcada em ritmo diferente.
Músicas quentes e fervorosas, canções calmas para embalar um sábado ensolarado sentado à beira da praia, obras bem elaboradas em momentos de reflexão e estudo... música.

Do baião agarrado, do tango entrelaçado, do rock despojado, do samba malemolente, do metal encorpado e cortante e até do country com passos previsíveis, mas de certas frases grudantes... Todas elas tem suas peculiaridades, idiossincrasias; são infinitamente particulares, as músicas.

E há de se respeitar o ritmo de cada uma. Nada de girar e girar ao som de punk rock. O tiro é certo.
E tem de se admirar o corpo de uma canção bem trabalhada, bem estruturada, linda e gostosa de tocar. O que é bonito é para se ouvir.

Mas a procura por aquela ainda não ouvida, não apreciada e tampouco tocada só se faz maior.
Porém, a boa vida toa com experiências diferentes e, caso seja achada tão cedo a música a ser ouvida até o fim, a vontade de viver pode se esvair com o tempo. Portanto, o melhor a se fazer é viver prestando atenção nos diferentes tons e sons de cada uma delas, para que um dia a escolha por aquela 'uma só' seja a mais bem feita.

Trilha Sonora: Pearl Jam (Discografia em shuffle)