quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quem me dera houvesse trem...

...bala.

É meio bobo e sem-pé-nem-cabeça falar sobre uma cidade que você visitou poucas vezes e, nas vezes que foi, não conheceu muitos lugares diferentes, apenas perambulou pelos mesmos bairros e bares e com as mesmas pessoas. Mas, porém, contudo, no entanto, todavia e tudo mais, há algo nela que me cativa. Seja pelas pessoas, pela maneira que elas vivem, pelo clima sempre descontraído, pela rabugice bem-humorada, pelo constante contato com pontos turísticos mesmo estando em algum lugar bem longe de tudo... ou seja, simplesmen... principalmente, pelas pessoas que lá encontro e pelas histórias -algumas vezes patéticas, outras vezes bonitas, engraçadas e todas as vezes, no mínimo, interessantes - que sempre acabo trazendo na mala junto com as roupas sujas, descansador de copos roubados de algum bar qualquer como lembrança, câmera digital e até pseudo-drogas (pseudo, disse eu!).
São diversos os motivos pelos quais já fui a esse antro de sem-vergonhice, canalhice e gente suja que aprendi a gostar. Amigos, mulher, mulher, amigos, falta de opção, vontade de fugir, vontade desesperada de curtir férias etc. E sempre volto com uma sensação boa - além da barba gigante.
Aí me encontro ouvindo músicas de paulistanos que adoram o Rio, mas tem São Paulo como seu lugar e divago: Será que estou nessa situação? Mas logo coloco os pés no chão e me respondo que não. Óbvio que não.
Meu lugar é Santos, sempre vai ser. Com todos seus defeitos, com seu enorme jardim cheio de ratos, com seu centro morto, com, no máximo, 3 ou 4 famílias que mandam e desmandam na cidade (desde quanto vai passar a custar um imóvel até mover a feira de uma rua para outra), sem bares com músicas boas e opções baratas no menu... É, não dá pra enumerar todos os percalços pelo qual passa um boêmio wannabe em Santos, mas, por mais estranho que possa parecer - e parece - é o meu lugar e me orgulho dele. Mesmo cultuando um time que não é do meu coração, mesmo enaltecendo políticos que nunca me disseram, realmente, a que vieram... Com todos esses gols contra, gosto daqui. Tudo isso para expressar que não divido o mesmo ponto de vista da frase de tal banda, que é de São Paulo.
Também não navego no mesmo barco que eles, pois, ao que me parece, nunca largariam sua cidade-natal. Eu sim. Sempre dá vontade. Já deu e já o fiz, mas nada muito arrasador e rebelde o bastante. E voltei. Porém, ir morar em outro estado me traz aquele frio bom no estômago que parece que é causado por asas de borboletas do jardim da orla de... Santos.
Quem sabe... Partiu?

Trilha Sonora: Pullovers - Tudo Que Eu Sempre Sonhei (2009)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Mais um dia por vir.

O barulho do despertador enche o quarto de desespero e pressa. Enche seu corpo de má vontade, de cansaço antecipado. Os lençóis enrugados são convidativos, querem que fique por mais seis horas lhes fazendo companhia. A parede vermelha-cereja tenta, em vão, prender seus cabelos. O edredom esquenta o peito desnudo que logo sente frio ao se sentir desprotegido. Porém, a coragem e a necessidade falam mais alto e os chinelos, que antes estavam à espera dos pés brancos e chatos, nem muitos grandes nem miúdos demais, tomam vida e balbuciam um barulho arrastado até o banheiro. Enfim, em pé.
Longo, o dia acorda com comida semi-aprontada no dia anterior e esquentada no micro-ondas. Liga a televisão para ter aonde olhar. Esportes. Futebol. O Tricolor perdeu mais outra, talvez se guardando para a batalha campal de meio de semana, que fará sangrar o oponente até que este queira nunca ter sido chamado de colorado, pois o será ainda mais. Mas colorado pelo sangue que será derramado dos corações tristes de seus adoradores, coitados. O quase-almoço fica todo pronto. Senta-se na sala em frente à televisão, em cima do tapete azul-turquesa. Momento que beira o oriental. Ele quase come tudo o que colocou no prato raso de vidro amarronzado, mas não consegue. Deixa.
Tira as poucas roupas que ainda lhe restam da noite anterior no desejo e na necessidade de que desçam pelo ralo os resíduos que seu corpo produziu ao longo da noite. O cheiro bom do sabonete e do shampoo tomam conta do banheiro esfumaçado e quente e úmido. A toalha, ao esfregar-se contra seu corpo, adquire o mesmo odor prazeroso e umedece. Logo em seguida, ela abraça sua cintura enquanto ele escova seus dentes, coisa não muito caprichada, já com pressa. A camiseta vermelha é vestida, indicando a mudança de personalidade, de responsabilidade e de conduta de vida. Agora ele é outra pessoa. A mesma, talvez, mas diferente de antes. A cueca e as calças jeans vestidas e as meias e os tênis calçados mostram que está na hora. Coloca a carteira, o celular e aquele aparelho que comprou no final de semana anterior em diferentes bolsos e a mochila nas costas. Abre a porta. Ao trancá-la, vira a chave somente uma vez, pois ouviu um dia que assim é mais seguro que duas voltas. No começo, era por isso, agora não passa de um hábito. Tem dado certo, por que mudar? Sai.
Espera o elevador. Entra e se depara com a mesma imagem de quando escovava os dentes, mas agora sua boca não mais espuma e a camiseta vermelha agora compete atenção com a luz clara e vence. A preocupação é com os cabelos, que insistem em não repousar no lugar de sua preferência. Esboça um descontentamento, não que alguém pudesse ver e fazer alguma coisa, mas para expressar para si mesmo que a insatisfação tomou conta. Coisa boba; desiste.
O aparelho do bolso é retirado e, ligado, produz canções que o fazem bem. Oras provocam estado de euforia, oras de calmaria. Oras de furor, oras de paz. Oras de tristeza, oras de alegria, felicidade. Não se ouve mais o barulho do elevador descendo, passando pelos andares e parando no piso desejado. O que se ouve é apenas a música escolhida para aquele punhado de minutos que ditarão o humor do dia inteiro. A música ensolarada se mistura com o dia barulhento de frases sincronizadas ou não. A manhã, enfim, transforma-se em tarde. A viagem, a descida, a viagem, a descida, a viagem e a descida indicam a luta e o amor por fazer o que gosta e lhe dá prazer. Aquela música fez sentido, agora. O despertador, por fim, estava certo ao acordá-lo. Valeria a pena. O dia, enfim, começa.



Trilha Sonora: Mallu Magalhães - Mallu Magalhães (2009).

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Suco de laranja nosso de cada noite.

O suco ao qual me refiro conforta o solitário, aquele que vive sem amigos - seja porque não os tem, seja porque estão longe, ocupados, ou, simplesmente, porque os créditos do celular acabaram há mais de uma semana e não teve como chamá-los para dividir o Del Valle. O suco para momentos nostálgicos e de auto-avaliação.
O mesmo suquinho que une colegas de trabalho numa sexta-feira à noite após o expediente, ou para falar mal do chefe, ou para falar mal do dia, mas com o propósito principal e, quase sempre certeiro, de esquecer tudo de ruim que houve ao longo da semana e, se não for possível esquecer, rir de tudo. Rir de todas as trapalhadas, de todas as 'comidas de rabo', enfim... Tudo regado a muitos palavrões e gírias oprimidas pelo escritório, sala de aula, consultório etc. Mas suco demais, ainda mais com colegas de trabalho, faz mal pra saúde e pra reputação. Seja saudável com moderação.
O tão-rico-em-vitamina-C ainda pode adoçar novamente os paladares daqueles que amargam a perda de alguém com quem dividia a cama, o travesseiro, o lençol e até mesmo o canudinho ao tomar um... suco. Afinal de contas, após perder a metade de sua laranja, ao menos um suquinho pode ser extraído e bebido em seguida, certo? Ok.
O verdadeiro degustador de suco de laranja elege uma marca (se não o natural) como sua favorita. Eu, como já visto, tenho minha preferência pelo da latinha vermelha. Há aqueles que preferem aqueles com gominhos, aqueles que gostam de um mais concentrado e outros, ultra-preocupados com a saúde, que gostam mais de um suco de polpa de acerola com laranja pelo fato de conter muito mais vitamina C.
E se o indivíduo quiser um natural - nada de polpa, caixinha, latinha, garrafa ou coisa do tipo - ele pode escolher com açúcar, sem açúcar, com adoçante, sem adoçante, com muito, com pouco, 100% natural...
Cada um gosta de seu suco de laranja de um jeito. Não vou nem entrar no mérito dos copos, aí já seria muita enrolação. Tulipa grande é meu 'embebe' preferido. E prefiro beber na presença de amigos, do trabalho ou da vida off work. Uma noite com alguém que me possa ser especial no momento o suficiente para dividir uma garrafa de suco de laranja é sempre bem-vinda, é lógico. O lance é beber suco de laranja sempre, seja sozinho, seja acompanhado - por muitas pessoas ou por uma só. Mas cuidado para não fazer besteiras demais se exagerar no açúcar. Não misture tipos diferentes de suco numa mesma noite.
Deguste com parcimônia. Mas não tanta.

domingo, 25 de julho de 2010

Mais de 140 caracteres.

Domingo de manhã nebulosa, após uma noite de sábado em casa com as pernas doendo de tanto tempo sentado em frente ao computador, duas latas de cerveja (era o que tinha) ingeridas (o conteúdo, não a lata)... Eis que surge, não a ideia, mas a atitude de fazer um blog. Sabe-se lá o porquê, já que existem tantos sem nenhum leitorzinho assíduo e não vai ser esse que vai ter algum. Ou até vai, se houver gente que curte jogar um tempinho fora rindo dos outros (não "com os"). Enfim, o importante é ter bom humor pra levar a vida mal-humorada de sempre. Vírgulas, parênteses e alguns pontos finais ao longo de cada textículo podem, devem e serão encontrados. O que te leva a pensar, porém, são as reticências que indicam a frase inacabada, quase que suplicando por um fim digno que o redator/escritor/metidoabesta não teve a capacidade/coragem/ousadia/perspicácia/criatividade de dar. Algo que pode ser levado pra uma vidinha medíocre que só implica acordar, tomar banho, comer, trabalhar, comer, trabalhar, tomar banho, comer e dormir. E o pensar, o diferencial, fica no limbo. Ou seja, a imaginação é o que conta aqui. Não tanto a minha...



Para começar, ao que deve o título/endereço desse blog:



Lógico, A Volta Do Boêmio. Por quê? Nem sei... Mas que ficou bonitinho e sugestivo, ficou. Com o tempo e os posts, vai passar a fazer total sentido, acredito.



Para terminar, a trilha sonora: The Sounds Of The Smiths (2008). Acho que pra combinar com o começo do dia. Frio, solitário e até meio que deprimente. Bem diferente do resto do dia, eu prevejo (ou acredito prever).