quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Boa noite.

A voz anasalada, as narinas completamente fechadas, assim como o casaco. As pernas cruzadas na esperança de uma acalorar a outra. As calças sempre mais finas do que o necessário. As meias insuficientes para manter os pés quentes. A sinfonia dos espirros e das tosses se alternam ou se sobrepõem. Os edredons não dão conta. A conversa que não acabou antes de terminar. O saco de batatas que não acabou antes da vontade. O cigarro que acabou antes da conversa. O sono que começou antes do fim da conversa. A conversa que foi interrompida pela necessidade de acordar cedo na manhã seguinte. As outras conversas sem futuro nem muita importância que vão dar lugar a outro sono. As músicas que alegram. Os fones que apertam as orelhas. O estranho bom humor personificado pela ironia/sarcasmo apartente. Boemia? Só fim de semana, se for... Meio de semana nunca. Trabalho amanhã. Boa noite, então.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Trilhos da vida

Às vezes me flagro pensando em como uma relação entre duas pessoas pode ser tão conturbada e, ao mesmo tempo, tão satisfatória. De noites esporádicas em bares, geralmente, para resumir ou detalhar o fim de semana, passando por tardes torcendo pela seleção brasileira - ainda que em vão - e chegando a uma manhã se recuperando de uma noite que tinha tudo para ser mais outra da qual nos lembraríamos por boas conversas ruins, mas que ficou marcada pelo serviço braçal de levantar um ou dois carros.
O começo perturbado, o meio estabilizador e o agora mais que fortalecido, embora confuso, ainda assim, deve ser o significado de amizade. E é.
As escapadas a três - o suquinho à mesa sempre - são capítulos de um livro que nunca quero que se acabe, mas que um dia deixará de contar com os personagens principais - tendo em vista que há laranja no mundo para fazer sucos por muitos anos, ainda.
A garganta arranhada por conta de uma vontade idiota (backspace) feliz de cantarolar as poucas partes que se sabe de umas músicas de uma banda de rock sempre voltam a salientar, em meio a insultos incitados pela muita molecagem de primário que ainda carrego e risadas em uníssono, a importância que tem conquistado nessa minha vida.
Que as confissões ainda sejam muitas. Vivamos para que sejam, então.

Trilha Sonora: Los Hermanos (Discografia em shuffle no winamp)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Bairrismo

O lugar onde alguém mora é sempre o pior visto de dentro, mas o melhor visto de fora - pela mesma pessoa. Por quê? Oras...
Você pode e deve criticar tudo que há de pior onde vive. Você pode e deve criticar todas as atitudes erradas que as pessoas ao seu redor (e isso inclui você próprio) tomam equivocadamente. Pode e deve colocar o dedo na ferida de tudo o que há de ruim na sua casa, no seu prédio, no seu condomínio, na sua rua, na sua vizinhança, na sua cidade, na sua região, no seu estado e no seu país. É o que você, cidadão, tem que fazer. É seu papel, mesmo. Se não o faz, não age de acordo com suas obrigações. Simples assim. Afinal, só enxergando e apontando o problema é que é possível mudá-lo, certo? Pois bem...
Agora, se chega o seu vizinho e diz que sua casa é desorganizada, sua família é desbocada, fala alt0 demais, veste-se mal e não tem bons costumes, aí o buraco é mais embaixo. Mas por quê? Afinal, você faz o mesmo, reclama dos mesmos problemas. Sua casa é realmente uma bagunça e sua família não é nada perfeita, convenhamos - longe disso, aliás.
Esse seu vizinho enxerido e metido a sabichão não tem o direito de criticar sua casa, já que não pode mudá-la. Toda crítica deve vir com uma solução ou algo perto disso. E uma solução para um problema de sua família só você e sua família pode trazer, afinal de contas vocês é quem sabem melhor do que ninguém o que é melhor para vocês. E, mesmo se não souberem, simplesmente, não é da conta desse cara.
Agora peguemos um exemplo parecido, mas sob um ponto de vista diferente: Você vai ao exterior de seu país ou conversa com algum estrangeiro. Você sabe (melhor que um mundo de gente) os problemas que o Brasil tem, mas sabe o potencial que ele tem de mudar, também. Se um estrangeirinho qualquer fala mal dele, você vira bicho. É uma reação instintiva. Você, automaticamente, começa a falar das qualidades do seu país (ou estado, região, cidade, bairro etc.), do quanto ele é melhor do que o do outro (porque é!) e de todo potencial que ele tem. Enaltece os pontos positivos como nunca pensara que um dia poderia fazê-lo. Mas por quê?
Você é um bairristinha de meia pataca, assim como eu também o sou. Falou mal do seu nicho social, falou mal de você. Só você pode fazer isso.
E o pior são aqueles que falam mal de seu país, da sua cidade, mas precisam morar nela ou dependem dela, muitas vezes! Chega a ser patético. Não é tão ruim assim? Saia daqui e vá para um lugar que julgue melhor, pois daqui cuidamos eu e quem é dos meus.
Porém, o que se deve fazer nesses casos, é não esquentar muito a cabeça. Pelo contrário: ironize toda a situação. Seu país só tem macacos? Saque e descasque uma banana na hora. Seu país só tem gente mostrando bunda? Hm... Ok, mostre os pontos positivos. O lugar de onde você vem só tem gente metida? Empine seu nariz de tal modo que as pessoas vejam suas narinas bem abertas (e limpas, de preferência). Você sabe o que é melhor para você e para o seu redor. Continue defendendo sua terra.
Agora, se não é assim, mude-se. Não fará a menor falta.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Minha volta às aulas.

É bom saber o material humano com o qual se vai trabalhar por um semestre letivo. É bom ver de quem são as vidas que, quer queira ou não, vai-se tentar mudar um pouco e vou, de alguma maneira bem específica, torná-las um pouco melhores do que são - modéstia às favas, às cucuias e ao limbo, mas reinando a sinceridade.
Conhecer essas pessoas, com pouca ou muita experiência de vida, mas que, ainda assim, estão lá para aprender algo de mim, sempre me renova. Sempre faz com que seja cada vez mais difícil saber discernir o profissional do pessoal, sob o ponto de vista do afeto - muito embora se saiba. É, afeto.
O uso das mesmas piadas de início de semestre sempre sinceras e (quase) sempre bem-sucedidas marca o que vai ser uma jornada de aprendizado... p'ra mim.
Desde aquela criança/pré-adolescente que não para de falar sobre suas experiências de vida, as coisas novas que lhe acontecem no dia-a-dia, tudo que sempre cai de sua carteira, de como você é mais "animado" e "legal" que os anteriores (coisa que criança fala não se leva a sério, às vezes) e de quando demonstra carinho estantaneamente para com alguém que ela acabou de conhecer até aquele adulto que você percebe nos olhos que está satisfeito com o que espera, mesmo que um pouco receoso, às vezes.
E que Dezembro seja recheado de gente querendo um lanche no Habib's, um "montinho no teacher", uma dancinha, uma cantoria inusitada, uma "foto com a turma para colocar no orkut", um abraço em grupo, uma esfiha com Coca-Cola na semana seguinte ao último dia, um vídeo, um speech emocionante/emocionado, lágrimas...
Impossível não haver aquela turma com a qual, você dê mais risada, tenha mais o sentimento de companheirismo e até mesmo - por que não? - de amizade. Mas há também o momento em que seu corpo se enche de satisfação e sentimento de dever cumprido quando alguém lhe fala que, finalmente, entendeu tal coisa com sua explicação diferenciada. Tudo isso só fez e faz com que aquele moleque cabeludo da faculdade que ria dos outros que queriam ensinar tenha se tornado um profissional mais do que feliz na área não a que escolheu, mas a que o fisgou de tal forma que, hoje em dia, não se vê fazendo outra coisa e a qual está cada vez mais disposto a se dedicar.

Trilha Sonora - Joy Division - Substance (1988)